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Sim, sabias sempre e as teorias e tiveste sempre a certeza mas fingiste que não e agora elas desabam-te em cima como chuva. Já é quase de uma apatia, ultrapassar-te a ti mesma como se fosses uma meta e não tu mesma. Queres tanto ser diferente, não é? Queres deixar de ser tu, sendo tu, transformando-te e alterando-te.

Vais deixar de ser aquilo que és para seres aquilo que desejas, diferente, perfeita. É isso, portanto, queres ser perfeita. Talvez nem te falte muito, e estás quase quase, é aquele bocadinho que escasseia e aqueloutro que tens de deixar para trás.

A tua indecisão cansa-te a ti mesma e pronto, talvez seja demasiado agora, estás demasiado cansada, esqueces-te do que queres e finalmente desfaleces, porque é noite e a noite é uma boa razão para virares costas ao mundo e fechares os olhos.

canção ii – da transformação do ser.

Perdi tanto nestes momentos, foi-se tanto de mim embora, outra vez. Já morri duas vezes, e talvez morrer doesse menos. Ficar para trás não é para mim. É a antecipação, o correr à frente de todos com uma máscara-pele de alegria o que me deleita. É a felicidade que se apanha aí, às mãos cheias de nada e tampouco vazias.

Lanço-me dentro de mim para conter as palavras que me tentam escorrer amargas da boca, e enrolo-me em frieza como se tivesse frio — que bonito oxímoro. Não as consigo deter todas, essas palavras cobertas de fel que me corróem por dentro, mas as que saem disparam fazem ricochete e acertam de volta em mim, com mais força do que quando saíram, traspassando-me o coração com mágoa e deixando lá estilhaços aguçados.

Cai o mundo à minha volta e eu olho, até apenas faltar ser eu a cair, mas há sempre pequenos pedaços de mundo que me agarram e me sustêm e nunca chego a entrar em queda livre. Acho que tenho de agradecer a esses bocados que me impedem de cair.

grito ii – da morte da alma.

Se é um pedido auxílio então não percebo, então estou surda. Se é ajuda o que pedes então não oiço, então não percebo. Se queres mais de mim que aquilo que mostras então explica, então fala. Estou mais que cansada, estou exaurida, e perco todos os dias bocados da relação, da ligação, do laço que fica pela estrada porque o despojaste, ou fui eu, ou ambos, e agora não resta mais nada, nunca hei-de chamar relevantes às memórias porque são isso e não aquecem as manhãs ou as tardes ou as noites e os dias continuam vazios.

Chamo de inglórias as tentativas que deveria saber e lamento-me pelos cantos, irritadiça pela falta de consolo a mim própria e aquele que me dão nunca chega porque estou à espera do meu consolo. Não sei por que o faço, se não me hei-de conformar com a minha solidão pendente, e ela pende de mim.

Talvez possa um dia dirigir-me ao que desconheço tão solenemente mas que quero partilhar por ser demasiado fardo para mim sozinha, talvez possa um dia amar-me a mim porque sou tão importante como eu me quero fazer sentir. Recolho para mim as lágrimas porque não fazem sentido.

grito i – da maldição do alheio e meu.

Suspiro.
Já bastou o tempo que gastei. Se me escrever a mim perco menos do que sou (se conseguir definir tal inconstância). De todas as vezes que estou contigo descrevo simplesmente rastos por mim mesma, e entretanto já me perdi e não sei quem sou, ou se é para ti ou para outrem que escrevo. Por muito simples ou fugidia que seja a decisão (apelidada talvez de solução), é um improviso que me forço por saber que me fará bem.

No outro dia despedacei-me. Não sei como foi, foi tão súbito e brusco que mal me apercebi do que acontecera. Se to explicasse talvez percebesses, tu que sabes tudo, mas não vale a pena porque não quero entender. Compreender dá demasiado trabalho e custa mais do que viver nesta ignorância sadia. Apenas os que conhecem sofrem. A verdade pode servir para muita coisa, mas a mim nunca serviu para atenuar as mágoas. Para isso uso lenços de papel.

Bem, e que sabes tu então do que te quero dizer? Nada, provavelmente, nunca ouviste a minha voz profunda que partilhamos. Às vezes fico na dúvida, somos dois ou um apenas? Penso na minha leviandade a falar do que não sei e é tão vão tudo isto que parece irrelevante estar ou ser, ou o invés.

canção i – da irrelevância inconstante do ser.

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