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Caem por terra os alicerces desse teu mundinho insano e apertado, esse claustro imaculado refulgente brilhante onde alastram as frestas disfarçadas para ninguém as ver, nem tu, que julgas esse teu lugar o mais perfeito. Mas ele cai, desmorona-se, torna-se ruína decadente da tua glória quebrada por rastros de lágrimas e mágoas sulcadas perfeitamente no rosto da chuva. Que vão! Afinal pensaste mal, e o teu egoísmo, o teu egoísmo, criança, corrói-te de culpa que não te querem admitir, mas que tens, pesada, tão, tão pesada.

“I used to bring you sunshine, now all I ever do is bring you down.”

Era o que te sustinha, não era? Aquela perenidade em que acreditas sem acreditares em mais nada, porque de que te serve todo o resto? Que crueldade a tua para contigo, porque nesse teu mundo, ainda que em ruína, és rainha e senhora e tomas posse do tempo. E portanto és sempre criança, e as crianças não conhecem a dor alheia mais do que a sua, que passa com a ternura e o carinho dos outros, tão célere a ir como a vir. Não retêm elas as lágrimas e os soluços amassados, nem os gritos de dor. Há tanto tempo que não grito de dor. O máximo que consigo é erguer a voz e cantar, cantar no auge da voz junto à linha dos comboios que passam e abafam todos os sons menos os que ouves dentro de ti mesma, sejam canções, gritos, soluços, risos, os comboios que correm e passam e te deixam para trás. E tu que não querias fica para trás. Já és tu, sou eu, não sei quem sou nem que me chamo, o que recordo pode não ser meu e as palavras que escrevo são minhas neste meu mundo arruinado ou tuas nesse teu claustro derrubado.

E, contudo, é esse ser descontínuo que te prolonga, cedendo e vergando-se, enquanto o vento sopra lá fora e na rua estás bem, ainda que te corram as lágrimas como te corre a dor, estás bem enquanto te toca a ventania descomedida que te quer levar para longe. Mas ficas e cantas, quando queres gritar. Porque, ainda que tudo corra mal, estás melhor aqui. Com ele.

grito vii – da mágoa acesa do ser.

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