You are currently browsing the monthly archive for Outubro 2009.

És tão fraca. Destróis-te debruçada sobre ti mesma; ao menos respira, pára os soluços, retoma-os. Respira. Sabes como é, sempre o fizeste. Mesmo quando tropeças pela casa vazia sem ver, engolindo o teu próprio sal num desespero que dói, que te arranca do peito as mágoas em abruptos rompantes. Dói. Mas respira. Sê portanto pseudo-mártir quebrada, com a tua propensão para a desfelicidade em ti e nos outros, e bem, toda a gente sabe que há dias maus, para quê pensar mais nisso? Mas não há a luz ao fundo do corredor, ou os passos amarfanhados com chinelos calçados, nem um pequeno esquecimento que te alivie a solidão. Dói. Acima de tudo, queres sair daqui, queres ir para casa, não queres a opressão que resulta de ficares só. E quem te oprime, afinal, se não tu? Fraca.

Entretens-te com pálida benevolência e, assim que cai o último contacto, assim que é tarde e se mostra o escuro com as luzes moribundas cujo fim sabes breve, caem as barreiras que levantas em ti mesma e choras, choras agarrada ao que te resta no momento, a ti. Dói. Perguntas-te por que dói tanto. Tem calma. Se dói agora, mais tarde será bonança, tranquilidade serena para a alma. A solidão nunca fez mal a ninguém. É só um bocadinho, pequena chorona, já passa. Se não queres pedir ajuda a ninguém, ou sequer companhia que seja, abraça a Lizzie até adormeceres, que também ela é um embalo suave, e se até fechares os olhos de vez não te pararem as lágrimas, então solta-as, vamos, nada de medos, pode ser que as chores todas e depois não mais haja para derramar.

E mesmo na solidão encontrada em ti mesma aquando do silêncio das palavras e gestos dos outros, aguenta!, sê forte!, que nunca é mais que um tempo, e todo o tempo passa, passa o tempo pelo tempo e não volta, se voltar é pior, ou, porventura, melhor;  este já passou e, incrédula em ti pelo teu grito que nunca soa mais alto que um murmúrio à tua alma, essência, pois que seja o que queres, que qualquer um serve, podes sentar-te na noite e perceber que o silêncio é só teu, mas que a solidão é do mundo. Descrever vida nesse teu plano mudo muda a cor do teu interior, e respiras agora com mais tranquilidade, choradas já quase todas as lágrimas.

grito viii – da solidão melancólica do ser.

Foi assim, foi um repente que te beijou e nem sabes o que lhe chamar. Que importa, realmente, se há-de escorrer? Mas escrever como escreves, agora, faltou-te, confessa, que eu bem sei. Conta-me, a que te sabem as viagens, aquelas que te embalam em tantos pensamentos que nem os contas, que te faltariam os dedos e para lá disso. Serenas de corpo com solavancos na alma (seja pois ela o que for!), preencher o tempo com o tempo é tarefa árdua e talvez morosa, por sinal, sinais que às vezes são mais que os que queres ou ousas revelar. E então o melhor é o teu cantinho, que cantinho, tão teu e recheado de solidão auto-induzida. Se lhe queres tocar, é uma distância tão justa quanto outra. Que te abala tanto nos teus alicerces desequilibrados? Tortos por natureza, torta és tu, idiota sem ideias que não compreende. Como o faria? O que já foi assalta-te à mão armada de memórias e deixa-te caída e prostrada dentro de ti, vendo o mundo por olhos embaciados e soluçados.

Roleta russa que te fazes, que emoção te vai sair hoje! Está chuva então, venha daí a regularidade plena que te sorri, sorri-lhe também! Ou então, pois que existem nuvens para cobrir o céu enquanto estás a mais e não vale a pena sentir, o melhor é excluíres-te, que hoje deixa de fazer sentido viver como se sim, valesse a pena. Imbecil, que todos os dias valem a pena, que cansaço, mas não estou cansada, estou com sono, é um cansaço diferente. Desgaste das peças que te engrenam a vida, que perdes todas as horas mais do que são esses momentos que deverias aproveitar. É crueldade, não é?, não crês?, sonhar assim sem esperar acordar ou a reminiscência no sonho do sonho, porque seria mais fácil despertar. Arrepios, que os pesadelos talvez existam para te mostrar que dormires para sempre (ou para o sempre deste dia) não é opção. Se acordar te custa, não é decerto o acordar de manhã para o silêncio que é tão teu, porque tu afastas, tu e apenas tu, com as tuas músicas ouvidas e cantadas, que interessa, a escolha é tua. E os tons do mundo por essas alturas, que te despertam uma melancolia que, por vezes, chega a consolar-te e a aquecer-te o peito dorido da respiração forçada.

Encontra ânimo, vamos! Contradizes-te tanto, pareces a “Mesma” e a “Outra” numa polaridade quase fascinante, fosse ela menos traumática para ti própria. Talvez seja assim para todos, pensas, então, enquanto te escapas, momentos breves, do egocentrismo (pudesse ele faltar!), mas então decides que se fosse assim para todos seria bem estranho e para estranho já chegas tu. Ou assim queres pensar.

canção x – do regresso atrasado do ser.

calendário

Outubro 2009
S T Q Q S S D
 1234
567891011
12131415161718
19202122232425
262728293031  

vozes d’alma