You are currently browsing the category archive for the ‘gritos’ category.

Perdi tanto nestes momentos, foi-se tanto de mim embora, outra vez. Já morri duas vezes, e talvez morrer doesse menos. Ficar para trás não é para mim. É a antecipação, o correr à frente de todos com uma máscara-pele de alegria o que me deleita. É a felicidade que se apanha aí, às mãos cheias de nada e tampouco vazias.

Lanço-me dentro de mim para conter as palavras que me tentam escorrer amargas da boca, e enrolo-me em frieza como se tivesse frio — que bonito oxímoro. Não as consigo deter todas, essas palavras cobertas de fel que me corróem por dentro, mas as que saem disparam fazem ricochete e acertam de volta em mim, com mais força do que quando saíram, traspassando-me o coração com mágoa e deixando lá estilhaços aguçados.

Cai o mundo à minha volta e eu olho, até apenas faltar ser eu a cair, mas há sempre pequenos pedaços de mundo que me agarram e me sustêm e nunca chego a entrar em queda livre. Acho que tenho de agradecer a esses bocados que me impedem de cair.

grito ii – da morte da alma.

Se é um pedido auxílio então não percebo, então estou surda. Se é ajuda o que pedes então não oiço, então não percebo. Se queres mais de mim que aquilo que mostras então explica, então fala. Estou mais que cansada, estou exaurida, e perco todos os dias bocados da relação, da ligação, do laço que fica pela estrada porque o despojaste, ou fui eu, ou ambos, e agora não resta mais nada, nunca hei-de chamar relevantes às memórias porque são isso e não aquecem as manhãs ou as tardes ou as noites e os dias continuam vazios.

Chamo de inglórias as tentativas que deveria saber e lamento-me pelos cantos, irritadiça pela falta de consolo a mim própria e aquele que me dão nunca chega porque estou à espera do meu consolo. Não sei por que o faço, se não me hei-de conformar com a minha solidão pendente, e ela pende de mim.

Talvez possa um dia dirigir-me ao que desconheço tão solenemente mas que quero partilhar por ser demasiado fardo para mim sozinha, talvez possa um dia amar-me a mim porque sou tão importante como eu me quero fazer sentir. Recolho para mim as lágrimas porque não fazem sentido.

grito i – da maldição do alheio e meu.

calendário

Maio 2024
S T Q Q S S D
 12345
6789101112
13141516171819
20212223242526
2728293031  

vozes d’alma