há uma tragicidade cómica na música que repete e instrumentaliza a tua inconstância. há uma serenidade dorida nas palavras que te cantam e que atestam à tua loucura. há uma certeza esmorecida e firme que te toca por ser de uma irrealidade tão improvável, mas é a verdade leve que te aconchega. já sabes tudo e, contudo, nunca chega para apaziguar a tua inglória vontade de seres tu. a proximidade dói-te, a distância rasga-te, não há uma virtude no meio para consolo de martírios. sorri, alegria do hoje e sempre, deixa-te levar enquanto não estás só, não, isso não, a solidão fica por entre os peluches e as descargas de consciência. fica para ti quando choras (pouco, que de nada serve, não é?), para os momentos de quebra. fica para todas as horas que não conheces e que se cercam de quem não existe e nunca está mesmo lá. fica para os outros mas não, não é a mesma. diz-me, há mais razão que a que tens, ou a tua é a única verdadeira? que seja, é a única que interessa, nesse sustido egocentrismo de que te orgulhas e que te sofre. não sei se sim ou não, mas vale a pena sentir mais que nada se se sente também alegria em ser. mais que nada é alguma coisa, é ser, é ter é viver é sorrir e chorar e sentir. é tanto. a indiferença mata-te mas mata-la primeiro, bane-a e contenta-te com a melodia do final de tarde, que sempre chega e te deixa ser quase tu.

canção xii – do regresso (?)